terça-feira, 3 de junho de 2014

Brasil ainda tem municípios que não chegaram ao século XXI. País avança, mas desigualdade entre regiões ainda é grande, diz estudo da Firjan por Carolina Benevides (Jornal O globo 31-05-2014)

RIO - Mesmo com as transformações sociais e econômicas da última década, alguns municípios do Brasil ainda não chegaram ao século XXI. O dado é do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). De acordo com o estudo, os 500 municípios com menores IFDMs estavam, em 2011, 13 anos atrás dos 500 na liderança do ranking. O índice analisa três áreas — Educação, Saúde e Emprego e Renda — e varia entre 0 e 1. Quanto mais perto de 1, melhor.
Segundo o levantamento, em 2011, o IFDM do Brasil foi de 0,7320 pontos, 1,8% maior do que em 2010. Os indicadores de Saúde e Educação melhoraram em 65% e 81% das cidades, respectivamente.O indicador Emprego e Renda, no entanto, recuou: em 2011, a geração de empregos foi 23% menor do que no ano anterior. 

Mas, ainda que o país tenha avançado, a desigualdade entre as regiões cai em ritmo lento. Sul e Sudeste concentravam as cidades com maiores índices de desenvolvimento — São Paulo ocupava as dez primeiras posições do ranking. Entre as capitais, o Rio aparecia em 9º lugar, tendo atingido status de alto desenvolvimento. O Centro-Oeste, pela primeira vez, não teve nenhuma cidade com baixo desenvolvimento. Mas Norte e Nordeste tinham apenas três cidades com alto desenvolvimento: Palmas, no Tocantins, e Euzébio e Sobral, no Ceará. Os últimos dez colocados no ranking geral eram dessas regiões.

Santa Rosa do Purus, no Acre, com pouco mais de quatro mil habitantes, segundo o Censo 2010, tinha a pontuação mais baixa do Brasil. De acordo com o estudo, por lá, a nota média do Ideb era 24,4% inferior à nota média nacional. Na Saúde, a taxa de óbito de menores de 5 anos por causas evitáveis foi quase quatro vezes maior que a média nacional. Além disso, entre 2008 e 2011, a geração de emprego formal no município foi nula.

— Mesmo com o país tendo avançado, são dois "Brasis". Houve uma mudança significativa entre 2000 e 2010, mas o Brasil ainda tem desafios, quando comparado com o mundo e também com as regiões mais desenvolvidas do país — diz Guilherme Mercês, gerente de Estudos Econômicos da Firjan.
Médica e professora da UFRJ, Ligia Bahia acredita que, para diminuir a disparidade regional, é necessário que haja prioridade orçamentária e de recursos humanos:

— Sem planejamento, sem articulação entre o social e o crescimento econômico, essa desigualdade não acaba. Não adianta só repassar verba, não pode ficar mais achando que política social é melhorar renda e só. Se melhora a renda e não melhora, por exemplo, a qualidade da Saúde oferecida, em algumas cidades a pessoa vai continuar morrendo sem diagnóstico. Diminuir a disparidade é dar também mais chance de sobrevivência, de uma vida melhor.

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